Resumo: Revolução Constitucionmalista de 1932

 

História do Brasil


Antecedentes:

 

·        1929

O mundo estava prestes a vivenciar uma das maiores crises econômicas de todos os tempos. Com as altas taxas de inflação nos EUA e uma eventual desvalorização do dólar, os demais países temiam uma recessão econômica, desestimulando o consumo de bens não essenciais, como o café. Os efeitos da Grande Depressão de 29 viriam a gerar uma crise econômica no brasil, com um grande impacto negativo nos preços da exportação de café.

Ao longo da primeira metade do século XX, o café passou a ser uma das principais comodities de exportação do Brasil, com seus lucros proporcionando o enriquecimento, principalmente, dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Além de acelerar o processo industrial, o café proporcionou um destaque a estes Estados, na qual, conseguiram articular a chamada Política do Café com Leite. Através da influência e poder das oligarquias locais que controlavam o setor agrário, os Estados de São Paulo e Minas Gerais conseguiram promover um revezamento no poder Executivo, através do Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro.

Este monopólio político gerou atrito com demais Estados também economicamente relevante para o Brasil, na qual buscavam uma representação maior de seus interesses particulares.

Dessa forma, quando o Presidente Washington Luís decide por nomear Júlio Prestes, um candidato Paulista, a sucessão presidencial, pulando a vez do Estado de Minas e rompendo com a política do Café com Leite. Recebe o apoio imediato de 17 governadores, que viram nessa oportunidade a chance de pôr fim a este revezamento.

O rompimento entre São Paulo e Minas Gerais, direcionou o Estado mineiro a aliar-se a Bancada Gaúcha, formando assim, a “Aliança Liberal”, formada pelos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, com o candidato Getúlio Vargas a frente da candidatura, tendo João Pessoa como seu vice.

A Aliança liberal possuía o apoio popular da classe média e jovens oficiais do exército, possuindo apoiadores, inclusive, dentro do Estado de São Paulo

As eleições estavam marcadas para 1 de março de 1930 e um clima de tensão pairava sobre o congresso. Tons de ameaça rondavam a capital, o Rio de Janeiro, e uma revolução estava sendo anunciada pela Aliança Liberal.

Em 24 de setembro de 1929, o Senador Estadual Candido da Motta profetiza em seu discurso no Congresso Legislativo do Estado de São Paulo:

“A guerra anunciada pela chamada aliança liberal não é contra o Sr. Júlio Prestes, é contra nosso Estado de São Paulo, e isso não é de hoje. A imperecível inveja contra o nosso deslumbrante progresso que deveria ser motivo de orgulho para todo o Brasil. Em vez de nos agradecerem, nos cobram de injúrias e nos ameaçam com a ponta de lanças e patas de cavalo!”

 

·        1930 - 1931

O resultado das eleições de março de 1930, contemplou a vitória de Júlio Prestes, candidato do Partido Republicano Paulista, com uma ampla vantagem frente a Getúlio Vargas.

Entretanto, com o monopólio das oligarquias sob o controle de votos, medida está conhecida como Voto de Cabresto, que vigorou ao longo de toda a chamada República Velha, a real extensão dessa vitória é incerta.

Este resultado gerou revolta dentro da Aliança Liberal, que almejava romper com o monopólio do Estado de São Paulo no poder. Este sentimento revoltoso seria inflamado após o assassinato de João Pessoa, candidato a Vice na chapa de Getúlio Vargas.

Seu assassinato não possuía ligação direta com a disputa de influência nacional, na verdade, ocorreu devido a motivações particulares. João Duarte Dantas, um adversário político regional, foi o mandante do assassinato de João Pessoa. Dantas se sentiu motivado após a invasão de sua casa por elementos da polícia, supostamente, a mandos de João Pessoa. Culminando na vingança através de seu assassinato.

Grupos radicais dentro da Aliança Liberal, enxergaram o assassinato de João Pessoa como uma oportunidade, levando ao surgimento de uma revolta armada em julho de 1930 com o objetivo de impedir a posse de Júlio Prestes em 3 de outubro de 1930.

Um Golpe militar se mobilizou no Estado do Rio de Janeiro, então Capital do país, entregando o poder a Getúlio Vargas, configurando aquilo que viria a ser conhecido como a Ditadura do Estado Novo.

Um governo provisório é instaurado com o objetivo de pôr fim ao monopólio político Paulista. Suas principais medidas seriam a anulação da então constituição de 1891, com a promessa de elaborar uma constituinte, assim como modificações no sistema eleitoral.

Medidas de centralização de poder foram tomadas, fechando as Câmaras Estaduais e o Congresso Nacional. Getúlio nomeou interventores para todos os Estados, depondo os então governadores. No caso de São Paulo, fora nomeado João Alberto Lins de Barros, um antigo Tenente do Exército que havia sido promovido a Coronel após a Revolução de 1930. O Coronel João Barros era mal visto pela Oligarquia Paulista, na qual o apelidara pejorativamente de Pernambucano.

De 1930 até o ano de 1932, o Estado de São Paulo passou a ser governado por interventores federais, até a chegada de Pedro de Toledo, um paulista que viria a ser aclamado pela população do Estado, governando de 7 de março de 1932 até o final da Revolução de 1932.

 

A Revolução:

 

·        1932

A irritação do povo paulista se atenuava, os movimentos políticos que antes apresentavam alguma divergência de opinião sobre a ascensão de Getúlio Vargas, já não discordavam mais. O Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São Paulo se uniram em fevereiro de 1932, no movimento que viria a ser conhecido como a Frente Única, exigindo o fim da Ditadura do Governo Provisório e a convocação de uma constituinte para a elaboração de uma nova constituição.

Anterior a esse movimento político, grandes movimentos sociais ocorreram ao longo do mês de janeiro, com o grande Comício na Praça da Sé, com uma estimativa de 200mil participantes. Exigiam a formulação de uma nova constituição e o fim das interferências federais no Estado de São Paulo.

O Estado de São Paulo possuía um sentimento de opressão e humilhação por parte do Governo Federal, como deixou relatado Leven Vanpré, “o Estado de São Paulo tornou-se uma terra conquistada para o Governo de Getúlio Vargas”.

Através de pressão popular, a Frente Única Paulista conseguiu impor sob o governo de Vargas a criação de um secretariado, composto exclusivamente de paulistas, para atuar ao lado do interventor Federal.

Os comícios de pressão popular estavam se intensificando, o que resultaria, no dia 23 de maio de 1932, o trágico evento durante uma manifestação no Centro de São Paulos. Cinco jovens foram atingidos e mortos a tiros por membros do Partido Popular Paulista, um grupo político militar fundado pelo interventor federal Coronel João Alberto e Miguel Costa.

O assassinato de Martins, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza, Antônio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga, é considerado o estopim para a revolta armada Paulista que teria seu início em 9 de julho de 1932.

Pedro de Toledo, com o apoio da população paulista, rompe com o governo federal e monta um secretariado de sua confiança.

O dia 23 de maio ficou marcado na história Paulista, sendo comemorado o dia do Soldado Constitucionalista, em homenagem aos cinco jovens assassinados neste dia.

O movimento Paulista cobrava três pontos principais. O estabelecimento de uma constituinte, a participação de São Paulo nesta constituinte e a derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas, pondo fim nas interferências federais aos Estados, principalmente em São Paulo.

Dessa forma, instaurava-se, no Estado de São Paulo, um movimento armado sob a bandeira da proclamação de uma nova constituição para o Brasil.

 

A Guerra Civil:

 

Para financiar o esforço de guerra, Pedro de Toledo iniciou a campanha Ouro para o bem de São Paulo. Um projeto para arrecadar fundos para as tropas em campo, que teve ampla adesão da sociedade paulista, com muitas famílias doando o pouco que tinham, as vezes apenas suas alianças de casamento, para contribuir ao financiamento das tropas paulistas.

Não somente a sociedade civil aderiu ao esforço de guerra, todo o parque industrial do Estado fora convertido para abastecer as necessidades das tropas, com fornecimento de armas, munições, vestimentas, blindagens e demais necessidades industriais.

A transformação do parque industrial paulista para o esforço de guerra foi fundamental para a manutenção dos combates, visto que, São Paulo, após o início da revolta, viu-se isolado dos demais estados que não aderiram ao seu movimento, mantendo a lealdade ao governo federal.

As fronteiras Paulistas logo foram cercadas por tropas federais, e seu litoral embargado pela marinha brasileira, impedindo a importação de suprimentos e armas para as tropas paulistas.

O front de guerra fora divido em três setores: Norte, Leste-Oeste e o Setor Sul.

O Setor Norte, região do Vale da Paraíba, ficou responsável, inicialmente, por iniciar uma ofensiva contra a cidade de Resende, onde se juntaria as tropas Mineiras para marchar em direção a cidade do Rio de Janeiro, capital do país, com o objetivo final de depor Getúlio Vargas do poder.

O plano paulista foi frustrado quando as tropas Mineiras se juntaram as tropas federais, obrigando o Coronel Odilon de Oliveira a entrincheirar suas tropas no Vale da Paraíba, uma região montanhosa e repleta de serras.

Devido a irregularidade do terreno, os combates foram sangrentos, com os paulistas conseguindo contornar momentaneamente a defasagem militar das suas forças. As tropas Federais possuíam superioridade bélica em número de combatentes, armas automáticas, peças de artilharia e aviões para ataque ao solo.

Ao longo do Vale, os Paulistas posicionaram certa de 10 mil combatentes, que foram responsáveis por segurar o avanço de 70 mil soldados das tropas federais. Eventualmente as forças constitucionalistas foram obrigadas a recuar, permitindo a captura de cidades no interior do Estado de São Paulo.

O setor conhecido como Leste-Oeste ficou responsável pela divisa com o Estado de Minas Gerais, neste setor, as tropas paulistas conseguiram avançar, alcançando a cidade de Pouso Alegre, no estado de Minas Gerais, onde foram emboscados por tropas federais em uma sangrenta batalha que forçou o recuo das tropas paulistas.

O setor Sul compreendia a região de fronteira com o Estado do Paraná. O sul do país era muito importante para as força federais. No Sul concentravam-se a maior parte dos equipamentos bélicos federais e os Paulistas sabiam disso. A Ofensiva Federal ao sul tinha como objetivo principal, tomar o eixo das linhas férreas de sorocabana e juntar-se ao cerco das tropas federais. Devido a incerteza de posicionamento político inicial dos Gaúchos, a frente Sul foi a última a iniciar suas ofensivas, tendo início, apenas, às 00h do dia 17 de julho, enquanto que, na frente Norte, no Vale do Paraíba, os combates já estavam decorrendo desde o dia 12 de julho.

Um diferencial muito importante no front Sul dessa guerra, foi a implementação de Trens Blindados por parte dos Paulista, na qual, inspirados em modelos utilizados na Primeira Guerra Mundial, foram fundamentais para manter as linhas de comunicações e suprimentos das tropas Paulistas, tendo em vista que São Paulo possuía o maior sistema ferroviário do país.

A indústria Paulista também tratou de investir em projetos de veículos blindados, utilizando caminhões da Ford e Chevrolet como seus modelos, assim como tratores adaptados. Os veículos Paulistas foram muito importantes para o recuo das tropas, auxiliando na frente de batalha. As forças federais, apesar de possuírem maiores recursos, não empregaram veículos blindados nessa guerra, sendo registrado, apenas, o uso de 2 blindados francês Rebault FT-17, empregados na cidade de Passa Quatro, Minas Gerais.

Entretanto, enquanto as tropas Getulistas apresentavam defasagem nos equipamentos blindados terrestres, eles possuíam a vantagem aérea nos conflitos. A guerra civil de 1932 marcou a utilização de aviões, pela primeira vez em território nacional, para missões de ataque ao solo.

O emprego da Força Aérea, por ambos os lados, causava um impacto psicológico devastador nos combatentes inimigos, cidades como Campinas e Guaratinguetá tiveram infraestruturas seriamente danificadas devido aos bombardeios.

Apesar de ambos os lados possuírem aviões de combate, as Forças federais possuíam uma superioridade aérea 5 vezes maior que as forças constitucionalistas.

 

O fim do conflito:

 

Tendo início em 9 de Julho de 1932, os paulistas combateram as forças federais por aproximadamente 90 dias. Após o terceiro mês, em meados de Setembro, a situação em São Paulo começou a ficar insustentável. O bloqueio do Porto de Santos, além de impossibilitar o reabastecimento de suprimentos militares para Santos, além de impossibilitar o reabastecimento de suprimentos militares para a guerra, também inviabilizou o reabastecimento de bens essenciais para a população civil, causando uma escassez de alimentos e combustíveis.

Com a iminente queda de Campinas para as forças federais e o desabastecimento no Estado, o Comando das forças Paulistas, cientes da iminente derrota militar, propuseram um armistício para a negociação do fim dos conflitos.

No dia 2 de Outubro de 1932, na Cidade de Cruzeiro, São Paulo, fora assinado a rendição das forças constitucionalistas, pondo fim ao conflito. Nos termos acordados, São Paulo voltaria a ser administrado por um interventor federal indicado por Getúlio Vargas. Os líderes da Revolução Constitucionalista foram exilados para a cidade de Lisboa, Portugal e as forças públicas de São Paulo retornariam aos seus quartéis, abandonando suas posições de combate.

 

Consequências:

 

O número total de baixas para ambos os lados é desconhecido. Uma estimativa indica que mais de mil combatentes Paulistas tenham sido mortos, com um número parecido para as tropas federais.

Apesar de São Paulo ter sido derrotado militarmente, muitos historiadores enxergam a Revolução Constitucionalista de 1932 como uma vitória política para os paulistas. São Paulo continuaria por ser o maior Estado em produção de divisas, assim como um gigantesco exportador de café no cenário nacional. Com a revolução enfraquecendo a base política de Getúlio Vargas, que perderia o apoio dos Tenentes após o conflito.

Muitos afirmam que a revolução também antecipou a promulgação de uma constituinte, que levaria a criação da Constituição de 1934. Vargas já havia prometido uma constituinte para o ano de 1933, antes mesmo da revolta de 9 de Julho ter início, mas de fato, não tem como afirmar se Vargas realmente formaria a assembleia da constituinte sem a pressão política imposta pela Revolução Constituinte.

A criação desta constituição marcou avanços significativos para a sociedade brasileira, com a criação da Justiça Eleitoral e a adesão das mulheres, pela primeira vez na história nacional, ao sistema eleitoral Brasileiro.

O dia 9 de julho ficou marcado como feriado civil no Estado de São Paulo, com diversos
monumentos sendo erguidos para homenagear os participantes da revolta.

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