Laboratório de História
Comparação de métodos
Nesse
trabalho eu vou realizar uma comparação entre os métodos de pesquisa da
história oral e o uso de imagens como documentos históricos, através da leitura
dos textos de Ricardo Santhiago e Valéria de Magalhães em “Reflexões Sobre a
História Oral e Entrevistas a Distância”, assim como, o texto de Lilia Schwarcz
em “Lendo e Agenciando Imagens”.
Ambos
os métodos de pesquisa aprofundam o pensamento do homem ser o objeto de estudo
da história, defendido por Marc Bloch. A história oral permite ao homem, isso
como ser humano, a expor a sua perspectiva do fato em análise, trazendo
observações únicas que podem resultar em conclusões diferentes para
determinadas perspectivas. Dessa mesma forma, as imagens proporcionam uma
infinidade de informações que podem ser analisadas para levantar informações
referentes ao fotógrafo, ao cenário, ao contexto que ela pertence e aos
eventuais personagens que nela estiverem contidos.
De
toda forma, ambos os métodos também dialogam com o pensamento do historiador
Paul Veyne, na qual conclui que a história se trata de um conhecimento
mutilado, e os historiadores não estudam a história, mas aquilo que se pode
saber da história. Os textos, os testemunhos, as imagens, todos possuem o seu
lugar no quebra-cabeça que constitui a história da humanidade e, por tanto,
esses acervos necessitam de seus respectivos cuidados.
Lilia
Schwarcz, em seu texto, critica o errôneo manuseio de imagens históricas,
reprovando a falta de pesquisas aprofundadas para estudar todas as
interpretações contidas nas imagens, fazendo uso da definição de Jacques Le
Goff, na qual, em 2010, afirmou que as ciências sociais viviam o imperialismo
dos manuscritos, como se existisse, na fala de Schwarcz, “uma hierarquia
interna às fontes” (pg:392).
A
autora defende a utilização das imagens como documentos, ao invés de deixá-las
o papel da ilustração. Parafraseando Michael Baxandall, o público cria suas
obras, assim como, as obram criam seu público. As imagens atuam como uma forma
de imersão, conexão com o passado, permitindo expor a “realidade” e o contexto
do fato em estudo e, assim como Schwarcz desenvolve em seu texto, as imagens
não são neutras. Elas expõem aquilo que seu autor queria expor, talvez
evidenciando um conteúdo que não queriam que fosse exposto ou, em alguns casos,
ocultando fatos e manipulando cenários, retornando, desta forma, ao pensamento
de Paul Veyne, na qual, estudamos aquilo que sobrou para nós analisarmos e, em
alguns casos, induzidos a estudar.
Portanto,
tendo isso como ponto inicial, o pensamento de Marshall McLuhan se encaixa,
tanto na prática do estudo das imagens, quanto na prática da história oral.
McLuhan argumenta que os meios são extensão do corpo humano e classifica os
meios como qualquer artefato tecnológico capaz de estender o corpo e acelerar
seus sentidos. As câmeras, dessa forma, seriam os meios, assim como, a
internet, o computador, o gravador de fita usados para a realização de
entrevistas são para a história oral. Os autores Ricardo Santhiago e Valéria de
Magalhães complementam, em seu texto, que:
“Mudanças
tecnológicas reorientam hábitos, costumes e práticas medulares para a
comunicação humana; e novas modalidades de comunicação transfiguram gêneros do
discurso, seus conteúdos e modos de dizê-lo. À história oral, [...] cabe
apreciar criticamente tais mudanças, [...] e o impacto destas sobre a forma de
se contar a história.” (p.5 e p.6)
A
história oral, quando realizada através de encontros online, é muito criticada
pela sua comunidade, na qual argumentam a ineficácia de se captar as reações
humanas das testemunhas que, da mesma forma que nas imagens, transmitem
informações minuciosas e preciosas para completar o quebra-cabeça da
humanidade.
Alguns
pesquisadores, como o caso de Paul Hanna, discordam dessa argumentação de que
existe uma perda em captar reações através de entrevistas online e, para
ocasiões excepcionais, como a atual pandemia da Covid-19, os métodos online
trazem ganhos e novos recursos que devem ser explorados pela comunidade da
história oral. Estes recursos seriam a diminuição de custos para a realização
dos encontros, promovendo uma facilidade de acesso para ambas as partes,
redução de dilemas ecológicos, a realização da entrevista em um ambiente que
possa ser considerado seguro e neutro para o entrevistado e o entrevistador.
(HANNA, 2012).
Os
autores Ricardo Santhiago e Valéria de Magalhães enxergam essa enumeração de
vantagens e desvantagens, do uso de diálogos online, como redundantes e que o
uso da ferramenta, concordando com Deakin e Wakefield, alargou as
possibilidades de pesquisas para a história oral.
Portanto,
os métodos da história através da imagem e a história através da oralidade,
apesar de serem muito diferentes, conseguem ligar ideologias e associar
características em comum, levando a Associação de Historiadores Públicos do
Estado de Nova York, no dia 29 de março de 2020, a publicarem uma solicitação
aos historiadores que fizessem o uso de ambos os métodos de pesquisa,
documentando relatos e capturando fotos dos ocorridos durante a pandemia, para
que pudessem ser usados como objetos de estudo no futuro, documentando os
acontecimentos no presente. (Rompendo Isolamento, pg:13).
Bibliografia
MAGALHÃES, Valéria e SANTHIAGO,
Ricardo. Rompendo o Isolamento: Reflexões Sobre História Oral e Entrevista à
Distância. Revista de Pós Graduação UFRGS. Porto Alegre. 2020.
SCHWARCZ, Lilia. Lendo e Agenciando
Imagens: O Rei, a Natureza e Seus Belos Naturais. Sociologia&Antropologia.
Rio de Janeiro. 2014.
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