Análise: As noções de Estado e Nação perante os Estados Ibero-Americanos


 As noções de Estado e Nação 

perante os Estados Ibero-Americanos


No texto de José Carlos Chiaramonte:” La formación de los Estados Nacionales en Iberoamérica”, se comenta as mudanças sobre as noções de Estado e nação perante os Estados Ibero-americanos, na qual, alteraria o conceito de nacionalidade. O autor dialoga com o equívoco, que já vem sendo revisado pela historiografia moderna, em considerar os Estados da América Espanhola como nações detentoras de identidade própria a partir de sua independência. Entretanto, as elites Criolla do Novo Mundo mantinham uma relação estreita e alinhada com a Metrópole, dessa forma, enxergavam a América como pertencente ao Império Espanhol.

Passando a observar as Antilhas, seguindo um caminho diferente das demais colônias espanholas, Cuba permaneceu com esse alinhamento perante o domínio do imperialismo espanhol até o final do século XIX, colocando-se nessa órbita de influência através de interesses de sua elite, na qual, Juan Bernardo O’Gavan, em sua observação redigida em 1821, afirma: “[...] é forçoso recordar que a ilha de Cuba permaneceu fiel à Mãe Pátria, mesmo nas circunstâncias mais críticas e difíceis [...]” ( O’GAVAN, Juan. 1821).

Tais situações críticas e difíceis, referidas por O’Gavan, tratam-se da falta de mão de obra escrava e a crescente pressão exercida pela Coroa Britânica sobre o Império Espanhol, que se prolongou até a segunda metade do século XIX. Toda essa fidelidade da elite Criolla, na qual almejava a ampliação de suas lavouras de exportação de açúcar e demais insumos produzidos na colônia, levou, no ano de 1959, o historiador especialista em história econômica Manuel Moreno, a cunhar a expressão “Nação ou plantação”. Todos esses fatos, levaram a Rafael Marquese a concluir, em seu capítulo no livro “Revoluções de Independências e Nacionalismos nas Américas”, de que os próprios Cubanos foram responsáveis por derrubar os projetos de independências da ilha no quadro das crises coloniais. (MARQUESE, Rafael).

A falta da mão de obra em Cuba se remete desde os séculos XVI E XVII, na qual assumiu uma posição de conectar a metrópole as demais colônias americanas e restringindo o uso de escravos às atividades urbanas e nos arredores da cidade de Havanna, devido a regulamentação comercial espanhola que garantia a cidade de Sevilha, através do porto de Cádiz, o monopólio do comercio entre a metrópole e a colônia. Esse cenário foi contornado com a subida de Carlos III ao trono espanhol, que vislumbrou a necessidade de implementar em Cuba uma economia escravista de Plantation, com o objetivo de transformar Cuba em uma nova “Sugar Island”, como se referiu Marquese.

Essa aliança entre a Coroa e a Oligarquia Havaneira, entretanto, viria a sofrer a pressão dos Britânicos através do Congresso de Viena, que demandava, em 1816, o fim imediato do tráfico negreiro ao norte do Equador e até o ano de 1820 o encerramento completo das atividades. A Coroa Espanhola exigiu a extensão do prazo por mais cinco anos e uma indenização de 500 mil libras esterlinas e mais 1 milhão para custear uma imigração de trabalhadores europeus para Cuba, oferta essa que foi recusada pelos Britânicos alegando que os recursos seriam usados para custear a guerra na América. (MARQUESE, Rafael). A revolta espanhola perante a decisão do Congresso de Viena fica explicita na carta de O’Gavan como podemos observar no trecho em que ele se refere a Cuba perante a Coroa: “Seus interesses estiveram e estão intimamente ligados aos da Península, e seria doloroso que leis pouco meditadas e que dessem um golpe mortal na sua prosperidade a fizessem ceder ao movimento comum que hoje agita o continente americano [...]” (O’GAVAN, pg:3)

Em 23 de setembro de 1817, Madrid e Londres firmaram um acordo, através do pagamento de 400 mil libras esterlinas por parte da Grã-Bretanha em troca do término das atividades negreiras na América Espanhola a partir de maio de 1820. A coroa Espanhola, não querendo perder o domino nas Antilhas, não respeitou o acordo realizado e promoveu uma negociação paralela com escravistas Cubanos para manter ilegalmente o tráfico de escravos africanos para a ilha de Cuba, advogando na importância do tráfico para a economia cubana.

Para a coroa Espanhola, através do reinado de Fernando VII, Cuba era muito importante para a economia do império e deveria receber benefícios e vantagens econômicas como promover livremente o comercio entre estrangeiros, assim como o Brasil.

Sobre o comando da Coroa Portuguesa, o Brasil recebia benefícios comercias que concorriam com a economia açucareira de Cuba. Os benefícios recebidos pelo Brasil se estenderam também a Londres, que simultaneamente que pressionava a extinção do tráfico em Cuba, não apresentava prazo para a extinção do mesmo no Brasil, levando a oligarquia cubana e o consulado de Havanna a proporem o rompimento do acordo Anglo-Espanhol por má fé Britânica. (MARQUESE, Rafael). O ministro das Relações Exteriores da Espanha não respeito os desejos do Consulado de Havanna, sabendo dos riscos diplomáticos que este ato poderia provocar. As negociações entre Espanha e Cuba perante esse impasse, resultaram no acordo de livre comércio legal para a ilha e a manutenção do tráfico negreiro na ilegalidade.

 

 

Bibliografia

CHIARAMONTE, José. La formación de los estados nacionales em iberoamérica. Argentina. 1997.
PAMPLONA, Marco A.; MÄDER, Maria Elisa (org). Revoluções de independências e nacionalismos nas Américas. Vol.3: Nova Granada, Venezuela e Cuba. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
PAMPLONA, Marco A.; MÄDER, Maria Elisa (org). Revoluções de independências e nacionalismos nas Américas. Vol.3: Nova Granada, Venezuela e Cuba. Capítulo: A escravidão Caribenha entre dois Atlanticos: Cuba nos quadros da Independência Americana. São Paulo: Paz e Terra, 2009.


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